Ceará faz primeiro transplante alogênico
A última terça-feira, 11 de fevereiro de 2014, entrou para a história da medicina cearense. Foi realizado ontem, no Hospital Universitário Walter Cantídio, em Fortaleza, o primeiro transplante alogênico (paciente recebe células sadias de outra pessoa) de medula óssea da história do Ceará. O procedimento, que começou às 10h, teve duração de 30 minutos e foi considerado um “sucesso” pela equipe.
A paciente, uma mulher de 29 anos, moradora do município de Tabuleiro do Norte, a 211 Km de Fortaleza, sofre de leucemia aguda grave. Ela recebeu as células de um irmão.
O médico hematologista e também coordenador do Banco de Cordão Umbilical e Placentário do Hemoce, Fernando Barroso, comemorou o sucesso do procedimento.
“Toda a comunidade médica está de parabéns. Este trabalho é conjunto, sabemos que precisamos de todos para que aconteça. A sociedade, os gestores e toda a comunidade devem estar sensibilizados para saber que este trabalho é importante e relevante”, advertiu.
Alta
Conforme o médico, a paciente receberá alta em 30 dias, para ser reavaliada. Já o doador, em uma semana estará liberado para retornar suas atividades. O Ceará se junta a Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Norte, grupo dos que avançam na área de transplantes e realizam o procedimento no Nordeste.
Desde setembro de 2008, o Ceará faz transplante autólogo, quando o paciente recebe células sadias do próprio corpo. Já foram 128 procedimentos desta categoria realizados. Atualmente, no Estado, seis pessoas aguardam por transplante. No Brasil, o número chega a 6 mil à espera. A média anual de transplantes no País é de 700 procedimentos.
Barroso lembra que as dificuldades são muitas quando se trata de buscar solucionar o problema de quem sofre nas filas de espera por um transplante. “Eu esperava por isso (realizar um transplante alogênico) há 14 anos. E não há expectativa para o próximo, pois não depende só de uma programação. A maior dificuldade, além de encontrar o doador, é o número de leitos. É até paradoxal, pois têm pessoas que encontram o doador mas não encontram o leito”, diz.
Sofrimento
A dona de casa Merilane Gabriel, 21, sofre já há mais de um ano junto com a filha, Laís Gabriel de Lima, de 4 anos, peregrinando de hospital em hospital. A criança foi diagnosticada com leucemia em dezembro de 2012. “A gente começou fazendo o tratamento no Hospital Albert Sabin, depois ela foi transferida para o Peter Pan. Em dezembro, ela teve uma recaída e, desde então, já foi duas vezes para a UTI”, relata.
Merilane diz que a filha adquiriu uma bactéria durante o tratamento. A situação é ainda mais grave pelo fato de Laís sofrer de uma doença do coração e ter Síndrome de Down. “Parece que a cada mês complica mais. Os médicos só falam que é grave”, lamenta, frisando que Laís precisa de sangue do tipo O negativo.
FIQUE POR DENTRO
O transplante de medula óssea é um tipo de tratamento realizado para algumas doenças que afetam as células sanguíneas, a exemplo da leucemia e do linfoma. De maneira geral, o procedimento introduz uma medula óssea saudável para reconstituir a medula original. As células podem ser obtidas através da transferência de sangue ou pelo cordão umbilical do doador.
No Ceará, o Hemoce é responsável pela realização da coleta do material. De acordo com informações concedidas pelo Hemocentro, a probabilidade do portador da doença encontrar um doador de medula óssea compatível, no Brasil, é de uma em 100 mil. No mês de janeiro, o Hemoce cadastrou, pelo menos, 536 novos doadores de medula óssea no Estado do Ceará.
Para se tornar um doador, é preciso que o interessado tenha idade entre 18 e 55 anos e esteja em bom estado geral de saúde. O doador deverá, ainda, se certificar de que não possui nenhuma doença infecciosa transmissível pelo sangue.
Fonte: Diário do Nordeste.